Fogo: Amigo ou Inimigo? - Manejo do Fogo

Homem aborígene fazendo o manejo do fogo


Há alguns milhares de anos, nas savanas africanas, o fogo foi se transformando em ferramenta! Aqueles povos passaram a se beneficiar dos efeitos do fogo para alterar a vegetação e a fauna selvagem. O fogo causava ameaça, mas também representava benefícios. Se houver a possibilidade de ser manejado o fogo pode trazer benefícios. Se não houver o controle, pode ser maléfico. Por isso o fogo possui duas faces – fogo benéfico e o fogo maléfico.

Apenas recentemente o fogo passou a ser visto majoritariamente como maléfico principalmente (se não unicamente) pela sociedade urbana. O crescimento da vertente de preservação natural, no sentido restrito do termo “preservação”, fez crescer a ideia de que o fogo deve ser sempre evitado. Tal atitude fez a sociedade perder aos poucos a relação benéfica do fogo. Essa linha de raciocínio trouxe o ideal de fogo zero.

Queima controlada realizada pelo PREVFOGO

Em 8 de julho de 1998 foi decretada a proibição do uso do fogo nas florestas e demais formas de vegetação (Decreto n° 2.661/1998). Para realizar a queima controlada passou a ser necessária a autorização do órgão competente do SISNAMA. Foi criado então o PREVFOGO (Sistema Nacional de Prevenção e Combate Incêndios Florestais), coordenado pelo IBAMA. Ao PREVFOGO cabe a competência de realizar e aperfeiçoar as técnicas de queima controlada.

Persistem, porém, povos tradicionais que ainda utilizam o fogo como forma de manejo da flora e manutenção da biodiversidade. Isso se deve ao fato de que se o fogo for totalmente extinto no ambiente ecológico, haverá grande acúmulo de combustível. Esse combustível acumulado durante anos é extremamente perigoso, pois se qualquer foco de fogo se iniciar, poderá se alastrar devastadoramente no ambiente, resultando em fenômenos catastróficos; com impacto (negativo) bem maior do que pequenas queimadas controladas.


É importante entender que existem diferentes tipos de ecossistemas (de forma genérica, de modo que nem todo tipo de vegetação se enquadra nesses tipos). Existem aqueles independentes do fogo, aqueles que dependem do fogo e aqueles que são sensíveis ao fogo (Hardesty et al. 2005). Estes ecossistemas respondem de maneira diferente à ação do fogo.

Ecossistemas frios e úmidos, independentes do fogo

Ecossistema deserto, independente do fogo

Os ecossistemas independentes do fogo são ecossistemas muito frios, úmidos ou desertos, onde o fogo dificilmente ocorre e é praticamente desnecessário. Os ecossistemas dependentes do fogo são geralmente savanas. Nelas as espécies são adaptadas ao fogo e respondem positivamente a ele, possuindo vegetação que é propensa ao fogo e bem inflamável, de modo a facilitar a propagação do fogo. 

Savana africana - depende do fogo



Os ecossistemas sensíveis ao fogo são representados pelas florestas tropicais e subtropicais latifoliadas, encontradas em zonas temperadas, bem como nos gradientes de altitude ou de umidade. Nessas áreas, na ocorrência de incêndios, a mortalidade é alta - mesmo que em incêndios de baixa intensidade -, apesar de serem raras as ocorrências nestes ecossistemas. A vegetação é pouco inflamável e não propensa ao fogo, de modo a inibi-lo.

Ecossistema úmido sensível ao fogo

O Cerrado é um bioma que contém vegetação resistente ao fogo. Sua vegetação pode resistir à passagem do fogo (exceto o de alta intensidade, com muito acúmulo de combustível) sem danos graves. Queimadas naturais, provocadas unicamente por raios (no Cerrado, onde não há vulcões), não são danosas ao Cerrado. Esse tipo de queimada ocorre apenas na época chuvosa, que é a época em que há incidência de raios. As cascas grossas das árvores protegem seu interior, e as raízes profundas contém nutrientes suficientes que garantem a rebrota após a passagem do fogo.

A constância dos grandes incêndios provocam a perda da biodiversidade (flora e fauna). Os grandes incêndios, que são geralmente no período da seca e sempre causados por ações humanas, provocam mudanças na fisionomia do Cerrado, permitindo o aumento, inclusive, de espécies exóticas invasoras - capim-gordura e braquiárias, por exemplo. Para evitar incêndios estão sendo realizadas ações de educação ambiental envolvendo a coletividade, como a Blitz Ambiental.

Atualmente o PREVFOGO está, juntamente aos povos tradicionais, aperfeiçoando as técnicas e realizando trabalhos conjuntos de aplicação da queima controlada (queima prescrita). A mania de centralizar o poder sobre a natureza e a postura de detentor do conhecimento que vêm das universidades, desconsiderando o conhecimento de povos tradicionais, se mostra cada vez mais ignorante.

Vem sendo percebido o fato de que estes povos tem o domínio das técnicas a muito mais tempo do que achamos (nós acadêmicos), vendo-os ainda com um olhar de colonizador, de dominador. Nota-se, contudo, que há dependência entre os conhecimentos. O trabalho integrado, por sua vez, está crescendo, mesmo que ainda timidamente e com certo pré-conceito a respeito dos limites dessas populações não acadêmicas.

Aborígene australiano realizando queima controlada

Outro fato interessante é que está ocorrendo uma quebra no ideal de fogo zero, de modo que os benefícios do fogo estão sendo notados, bem como sua necessidade em determinados ecossistemas. Para concluir, veja AQUI o trabalho de queima controlada realizado pelo PREVFOGO na área de Costa Osborn. Veja também aqui a necessidade de alguns ecossistemas do fogo e aqui um pouco mais sobre o trabalho realizado pelo PREVFOGO. Estes vídeos são parte essencial desta postagem, de modo a enriquecer o conhecimento sobre o assunto!

DEFININDO TERMOS

Queima prescrita: quando o fogo é utilizado para consumir o acúmulo de vegetação seca, biomassa, de maneira a prevenir incêndios florestais, visando a conservação ambiental.

Aceiro: local de retirada da cobertura vegetal. Faixa "corta-fogo" que impede o avanço do fogo durante a queima controlada, utilizado também para evitar a progressão do fogo na vegetação, prevenindo grandes incêndios.

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