© Inovatech Consultoria / Edisio Brandão - WWF
Parece contraditório dizer que uma
extração pode ser sustentável, bem como dizer que um determinado tipo de
extração e uso dos recursos naturais pode ser bom para todos. No entanto o fato
é que nós pouco conhecemos nosso país de natureza megabiodiversa e muito menos
a aproveitamos. Temos mais da metade do Cerrado ocupado de forma antrópica,
reduzimos nossa Mata Atlântica a menos de 7% do original e desmatamos cerca de
20% da nossa floresta amazônica.
Mesmo assim ainda desconhecemos ou até
negamos o fato de que aplicar a extração sustentável pode trazer melhoras
nessas estatísticas (não só no quantitativo, mas também no qualitativo e
prático).
Para a melhor compreensão do que é
desenvolvimento local deve-se fazer a ligação de sustentabilidade e
desenvolvimento – apesar da palavra “sustentabilidade” ter sido, de algum modo,
vulgarizada e seu real conceito parecer muito amplo e nada concreto.
O desenvolvimento sustentável nas Unidades
de Conservação está ligado às técnicas de manejo para extração de qualquer
elemento biótico e abiótico – por exemplo; pesca (biótico) ou extração mineral
(abiótico).
O conceito de “boom-colapso” é essencial
quando o assunto é esse, e auxilia na importância de se manter o uso sustentável
(de fato) dos elementos das UCs.
O “boom-colapso” é um fenômeno que
consiste numa expansão econômica de curto prazo - devido à extração desregrada
de quaisquer elementos da região - seguido da melhora nos Índices de
Desenvolvimento Humano (IDH) locais ou regionais. Seguem-se ainda alguns anos
de “boom” e depois, com a escassez dos recursos, ocorre o “colapso”, isto é, um
declínio econômico e do IDH, em que a região se aproxima (economicamente
falando) do momento pré-extração. A diferença é que agora a região teve seus
recursos esgotados e a sustentabilidade se tornou inviável.
Contudo, se houver implementação de
técnicas sustentáveis de manejo dos recursos nas UCs, há o aumento gradual nas
rendas municipais (principalmente). Dessa forma se propicia uma fonte de
recursos e de renda, gerando desenvolvimento gradativo e em longo prazo. Dessa
forma há a manutenção da atividade, tornando-a sustentável.
Como exemplo, a substituição da pesca
predatória da espécie Pirarucu para implantação de técnicas de manejo
sustentável na RDS Mamirauá obteve ótimos resultados. A renda era de R$ 10,8
mil em 1999 e passou para R$ 162,5 mil em 2005. Em conjunto ao acréscimo de 4
vezes no estoque disponível da espécie Pirarucu na região (VIANA et al. 2007). (Confira aqui)
Outro exemplo é o caso das mulheres da
RESEX do Rio Cajari. A partir de 2009, com o apoio do ICMBio, após investirem
no aprendizado para transformar a castanha-do-brasil e outros alimentos
(extraídos na RESEX) em biscoitos e bombons, tiveram acréscimo em sua renda. Em
2009 o ganho bruto anual por pessoa era de R$ 3 mil, passando para R$ 6,5 mil
em 2014. (Confira aqui). Recentemente a
União concedeu direito de uso sustentável para catadores de mangaba e
pescadores artesanais, confira.
Em suma, a relação de desenvolvimento e
conservação como opostos está empiricamente errônea, isto é, simplista. Há
técnicas de manejo sustentável que permitem o desenvolvimento local em Unidades
de Conservação. Basta pesquisar um pouco mais para descobrir.
Conhecendo melhor os planos de manejo de
cada categoria (PI ou US) e subcategoria (ESEC, MN, PARNA, REBIO, REVIS, APA,
ARIE, FLONA, RDS, RESEX e RPPN) e aplicando a estratégia correta, o
desenvolvimento em Unidades de Conservação pode ser obtido de maneira
sustentável, gerando empregos, aumento de renda e melhoria de qualidade de vida
das comunidades locais e, de certa forma, a nível nacional.
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