A urbanização no Brasil,
como nos demais países da América Latina, se deu em conjunto a uma
industrialização com características diferentes da industrialização europeia.
Aqui as indústrias eram do tipo “chão de fábrica”, isto é, abrigavam mão de
obra menos qualificada. Da mesma forma, a indústria era incipiente e não
comportava a demanda de empregos. Esse excedente de mão de obra desempregada se
direcionou para prestar outros serviços e trabalhar de forma autônoma.
Dessa maneira, a
urbanização foi feita de modo desigual. Houve concentração e acúmulo no centro
e a dispersão para as zonas periféricas. Se criavam as condições para a
desigualdade econômica. Segundo Galvêas:
“são dramáticos os registros nos livros de História de sofrimentos das classes de menor renda nas grandes cidades: prolongamento da jornada de trabalho – incluindo mulheres e crianças – para até 18 horas; grande número de desempregados; grande promiscuidade nas moradias, cada vez mais densamente habitadas, o que facilitava enormemente o aparecimento de epidemias, como as de cólera e tifo; miséria; morte em grande escala.” (Galvêas, 1983, p. xi).
Notaram alguma diferença
com a atualidade? Essa não é a única problemática das mazelas sociais
originadas nos processos de urbanização.
Devido a esse processo
sem planejamento específico e à expansão desordenada da rede urbana, aqueles
que se alocavam nas zonas periféricas (entorno da zona central) assim o faziam
indevidamente e sem o controle dos órgãos estatais responsáveis pela
fiscalização. Assim se deu a ocupação de zonas inadequadas para construção
civil – bacias hidrográficas (riscos de inundação e contaminação da água),
APPs, encostas de morros, áreas protegidas por outros fatores (flora e/ou
fauna), etc..
Crescimento periférico desordenado, ocupando áreas de risco. |
Os resultados não poderiam ser diferentes. Todos os anos, por exemplo, vemos notícias de morros se derribando sobre moradias construídas em locais assim em épocas de chuva. Da mesma forma, vemos inundações tomarem cidades e vilas inteiras e centenas ou até milhares de pessoas perderem suas casas. Catástrofes seguidas de catástrofes. Todas são de conhecimento dos órgãos fiscalizadores, bem como suas causas. No entanto, são derivadas de um mal planejamento que se deu ao longo do século passado, principalmente a partir de meados do século XX.
Do mesmo modo, o
crescimento desordenado e a falta de planejamento nos próprios centros (também)
causaram outros processos de degradação e poluição. A transformação de todo um
ecossistema trouxe desequilíbrio. Encapar grande parte da cobertura vegetal com
asfalto e cimento, bem como a compactação do solo que restou são grandes
responsáveis pela morte de lençóis freáticos e a consequente falta d’água.
Como a infiltração da
água se tornou impossibilitada, uma vez que o solo perdeu sua capacidade de
permeabilidade, a água não chega aos lençóis freáticos. Isso causa o escoamento
superficial e essa água pode acabar evaporando ou formando erosões por onde
passa, podendo resultar em grandes voçorocas ou até mesmo grandes enchentes,
alagando as áreas mais baixas das cidades (geralmente próximas a rios e
córregos). Por isso o conhecimento dos solos é de grande importância para a
melhor compreensão do ciclo da água e de sua gestão.
A concentração
demográfica num local sem o devido planejamento traz também a concentração de
problemas como o mal manejo do lixo. Geralmente, em grandes cidades
despreparadas, o lixo é depositado em grandes lixões, concentrado em uma região
inadequada, sem o devido preparo para suportar esse material sem causar a
poluição desastrosa do ambiente.
O que ocorre nessas áreas
é: a proliferação de doenças; trabalho infantil (muitas vezes escravo);
poluição do solo, resultando na poluição de lençóis freáticos, espalhando mais
doenças e disseminando a poluição; mal cheiro; acidentes graves no manejo de
maneira imprópria do lixo, etc. O lixo, bem como a água, são grandes problemas
ambientais urbanos preocupantes – um pelo excesso e o outro pela falta.
Como não houve ordem
(devido à falta do Estado, que não cumpriu seu papel) no processo de
urbanização, outro fator de grande preocupação, principalmente no Norte e
Nordeste e cidades do interior, é o saneamento básico. A falta desse serviço é
um fator de grande preocupação nas zonas urbanas. Esgoto a céu aberto e o
lançamento desse material em locais inadequados trazem risco às pessoas e
animais, poluindo e atacando a fauna e, consequentemente, a flora.
Em todos esses casos a
gestão ambiental é de suma importância, faltando análises de impactos
ambientais bem estruturadas. Muitas vezes esses processos ocorrem sem a licença
ambiental, resultando na poluição e degradação que podem gerar situações
irreversíveis.
Outras formas de poluição
existentes e menos discutidas são a poluição sonora (ruídos constantes causados
pelo trânsito, construções civis, propagandas em automóveis, som alto em lojas
e veículos, etc) e a visual (pichações, cartazes, propagandas, etc). Esses
tipos de poluição afetam a saúde mental dos habitantes. Isso gera níveis
elevados de estresse, podendo gerar ansiedade, raiva e, posteriormente,
depressão.
Todo esse cenário traz a
necessidade de ações corretivas, ao invés de preventivas, uma vez que o cenário
já está instalado. Contudo, é possível a prevenção de maiores danos ambientais
e sociais com políticas públicas e medidas mitigadoras. Estamos caminhando para
essa melhora com uma produção de energia mais limpa, redução da produção de
lixo, reciclagem ou compostagem do lixo gerado, cumprimento da função do Estado
com a educação ambiental, planejamento urbano e saneamento básico instalado com
o devido licenciamento ambiental, etc.
Veja também: Banho de FLORESTA! - Shinrin'yoku.
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